Pela primeira vez, cientistas
detectaram as chamada ondas gravitacionais - um fenômeno previsto por Einstein
cem anos atrás
Há 100
anos, Albert Einstein previu a existência de ondas gravitacionais como parte de
sua Teoria Geral da Relatividade.
Durante décadas, os cientistas vinham tentando, sem
êxito, detectar essas ondas – fundamentais para entender as leis que regem no
Universo.
Isso até esta quinta-feira – um dia que já vem
sendo considerado histórico, já que um grupo de cientistas de vários países
anunciou ter conseguido detectar pela primeira vez as chamadas ondas
gravitacionais.
Essa comprovação é uma das maiores descobertas da
ciência do nosso tempo porque, além de confirmar as ideias de Einstein, abre as
portas para maneiras totalmente novas de se investigar o Universo. A partir de
agora, a astronomia e outras áreas da ciência entram numa nova era.
Os pesquisadores do projeto LIGO (Laser Interferometer
Gravitational-Wave Observatory, ou observatório de Interferometria de Ondas
Gravitacionais), em Washington e na Lousiana, observaram o fenômeno e
acompanharam distorções no espaço com a interação de dois buracos negros a 1,3
bilhão de anos-luz da Terra.
Mas o que exatamente essa descoberta significa?
Veja seis dos principais pontos.
O que
exatamente são ondas gravitacionais?
Segundo a teoria de Einstein, todos os corpos em
movimento emitem essas ondas que, como uma pedrinha que afeta a água quando
toca nela, produz perturbações no espaço.
A Teoria da Relatividade de Einstein é um pilar da
física moderna que transformou nosso entendimento do espaço, do tempo e da
gravidade. E por meio delas entendemos muitas coisas: da expansão do Universo
até o movimento dos planetas e a existências dos buracos negros.
Cientistas disparam lasers por longos
túneis, tentando identificar as ondulações no tecido de espaço-tempo
Essas ondas gravitacionais são basicamente feixes
de energia que distorcem o tecido do espaço-tempo, o conjunto de quatro
dimensões formado por tempo e espaço tridimensional.
Assim, qualquer massa em movimento produz
ondulações nesse tecido. Até nós mesmos.
E Einstein previu que o Universo estava inundado
por essas ondas. Esse efeito, no entanto, é muito fraco, e apenas grandes
massas, movendo-se sob fortes acelerações, podem produzir essas ondulações em
um grau razoável.
Assim, quanto maior essa massa, maior é o movimento
e maior são as ondas. Nessa categoria entram explosões de estrelas gigantes, a
colisão de estrelas mortas superdensas e a junção de buraco negros. Todos esses
eventos devem irradiar energia gravitacional na velocidade da luz.
Como
os cientistas detectaram essas ondas?
Os pesquisadores trabalhavam há anos
para detectar as minúsculas distorções causadas quando as ondas gravitacionais
passam pela Terra. Os detectores nos Estados Unidos – localizados no Ligo – e
na Itália (conhecido como Virgo) são ambos formados por dois túneis idênticos
em forma de L, de 3 km de largura.
Neles, um feixe de laser é gerado e dividido em
dois – uma metade é disparada em um túnel, e a outra entra pela segunda
passagem.
Espelhos ao final dos dois túneis rebatem os feixes
para lá e para cá muitas vezes, antes que se recombinem. Se uma onda passa pelo
túnel, ela vai distorcer levemente seu entorno, mudando a longitude dos túneis
em uma quantidade diminuta (apenas uma fração da largura de um átomo).
E a forma como as ondas se movem pelo espaço
significa que um túnel se estira e outro se encolhe, o que fará com que um raio
laser viaje uma distância levemente maior, enquanto o outro fará uma viagem
mais curta.
Como resultado, os raios divididos se recombinam de
uma maneira diferente: as ondas de luz interferem entre si, em vez de se
cancelarem. Essa observação direta abre uma nova janela para o cosmos, uma
janela que não seria possível sem Einstein.
E qual
a implicação disso?
Os
objetos também emitem essas perturbações que acabaram de ser detectadas, mas a
partir de agora os físicos poderão olhar os objetos com as ondas
eletromagnéticas e escutá-los com as gravitacionais.
"Agora,
o que se tem são sentidos diferentes e complementares para estudar as mesmas
fontes. E com isso podemos extrair muito mais informações", disse à BBC
Mundo Alicia Sintes, do departamento de física do Instituto de Estudos
Espaciais da Catalunha, na Espanha, que participou do projeto.
"Não
estamos falando de expandir um pouco mais o espectro eletromagnético, mas de um
espectro totalmente novo."
Descoberta anunciada nesta quinta-feira comprova
teoria centenária de Einstein (acima)
A especialista afirma as ondas eletromagnéticas dão
informações sobre o Universo quando ele tinha 300 mil anos de idade.
"Já com as ondas gravitacionais, pode-se ver
as (ondas) que foram emitidas quando o Universo tinha apenas um segundo de
idade."
É isso que será possível estudar a partir de agora.
Outro impacto diz respeito aos buracos negros:
nosso conhecimento sobre a existência deles é, na verdade, bastante indireto. A
influência gravitacional nos buracos negros é tão grande que nem a luz escapa
de sua força. Mas não podemos ver isso em telescópios, só pela luz da matéria
sendo partida ou acelerada à medida que chega muito perto de um buraco negro.
Já as ondas gravitacionais são um sinal que vem
desses objetos e carrega informações sobre eles. Nesse sentido, pode-se até
dizer que a recente descoberta significa a primeira detecção direta dos buracos
negros.
Qual o
efeito causado por essas ondas na Terra?
Quando as ondas gravitacionais passam pela Terra, o
tempo-espaço que nosso planeta ocupa deve se alternar entre se esticar e se
comprimir.
Pense em um par de meias: quando você as puxa
repetidas vezes, elas se alongam e ficam mais estreitas.
Os interferêmetros do Ligo, aparelhos usados para
medir ângulos e distâncias aproveitando a interferência de ondas
eletromagnéticas, vêm buscando esse estiramento e compressão por mais de uma
década.
A expectativa era a de que ele detectaria
distúrbios menores do que uma fração da largura de um próton, a partícula que
compõe o núcleo de todos os átomos.
Qual
pode ser o impacto dessa descoberta?
É fácil especular que as maiores revelações virão
de áreas cujas dúvidas sequer foram levantadas. Sempre foi esse o caso quando
novas técnicas de observação são descobertas.
Mas considere agora só a Teoria da Gravidade. Por
mais brilhante que Einstein fosse, sabemos que suas ideias estão incompletas.
A teoria da Relatividade descreve o Universo muito
bem em escalas amplas. Mas, para domínios menores, temos de recorrer a outras
teorias.
Assim, não há uma quantificação da Teoria da
Gravidade. Para chegarmos lá, temos de investigar lugares com gravidade extrema:
os buracos negros.
É lá que rotas para explicações mais complexas
podem ser encontradas, nos desvios que as ondas gravitacionais mostraram.
Essa
detecção vai render o Prêmio Nobel para os cientistas?
É muitíssimo provável. Como sempre, o debate vai
girar em torno dos envolvidos e seus lugares na cadeia de descobertas. Quem vai
ser considerado o responsável pelas contribuições mais importantes para se
chegar à detecção das ondas?
Mas uma coisa é certa: as grandes descobertas
para a ciência hoje estão atreladas a grandes máquinas. Além disso, sem a
colaboração do Ligo com centenas de participantes – que trabalham em campos
diferentes, usando tecnologias diferentes –, jamais chegaríamos a este momento.Contido em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160209_ondas_gravitacionais_mdb, pesquisado em 14/03/2016 as 18h00.
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